Perigos associados ao consumo de amêijoa e outros bivalves

19-10-2011 16:02

Os moluscos bivalves, porque se alimentam por filtração da água, acumulam microrganismos e
substâncias químicas. Assim, o seu estado de salubridade reflecte a contaminação microbiológica e
teor em metais tóxicos das zonas onde se encontram, podendo, mesmo, conter níveis superiores
aos existentes no meio ambiente 1.
A contaminação por microrganismos patogénicos que proliferam nas águas costeiras deve-se,
sobretudo, a descargas de esgotos urbanos e explorações agro-pecuárias. As bactérias são os principais
agentes biológicos no contexto das doenças de origem alimentar, não só em número como
em frequência, embora os vírus ou os parasitas também as possam provocar. Nos bivalves as espécies
de bactérias mais frequentes são Salmonella typhi, Vibrio cholerae e outras espécies de Vibrio e
Clostridium perfringens. Entre os vírus mais relevantes estão os vírus da hepatite A e da hepatite E
e os vírus da família Norwalk (gastroenterites). De acordo com estudo publicado, a maioria dos surtos
relacionados com consumo de bivalves refere que os mais importantes são as ostras, depois as
amêijoas e, por último, os mexilhões 2 .
O controlo microbiológico nos bivalves, realizado pelo Instituto de Investigação das Pescas e do Mar do Instituto Nacional Recursos
Biológicos (IPIMAR), envolve a fixação de zonas de produção de bivalves (ZPB) e respectiva classificação em classes, de acordo com
os teores bacteriológicos presentes, e a avaliação do grau de contaminação das respectivas zonas, a qual determina o tratamento
que é necessário para a comercialização dos bivalves. Os níveis de contaminação microbiológica nos bivalves podem ser reduzidos
através de tratamentos como a depuração ou a transposição 1.
Os perigos químicos mais frequentemente associados aos bivalves são as biotoxinas marinhas e os metais pesados.
A acumulação de metais pesados, designadamente, chumbo, cádmio e mercúrio nos bivalves, relaciona-se com o facto de grande
parte dos habitats destes organismos estar sujeita à invasão de efluentes urbanos e industriais. Em geral, os bivalves não se incluem
entre os alimentos que mais contribuem para a exposição aos metais. Estudos nacionais mostram que, em Portugal, os níveis de
metais pesados detectados em bivalves são baixos, tendo, no entanto, sido encontrados valores elevados de chumbo e cádmio em
bivalves capturados em zonas de estuários de rios 3.
As biotoxinas marinhas são compostos tóxicos, produzidos por microalgas, que podem causar intoxicação no Homem quando concentrados
por organismos aquáticos. São, predominantemente, neurotoxinas e podem provocar intoxicações agudas com sintomas
gastrointestinais e, por vezes, problemas respiratórios que, nalguns casos, são fatais. São termicamente estáveis e a depuração não
as elimina suficientemente 4. Em Portugal, são de especial interesse as microalgas que ocorrem na costa Ibérica, responsáveis por
intoxicações do tipo: diarreico (DSP - Diarrhetic Shellfish Poisoning), paralisante (PSP – Paralytic Shellfish Poisoning) e amnésico
(ASP - Amnesic Shellfish Poisoning).3 O IPIMAR é a autoridade nacional competente no controlo das ZPB, que inclui a Monitorização
das Microalgas Tóxicas e dos Moluscos Bivalves procedendo à análise periódica para pesquisa de biotoxinas e contagem de microalgas
tóxicas na água do mar. Quando são detectados níveis de biotoxinas perigosos para a saúde humana, o IPIMAR desencadeia a
interdição da captura e comercialização dos bivalves afectados junto da autoridade marítima competente, o que ainda recentemente
ocorreu com interdição para diversas zonas de produção.
Assim, os consumidores de bivalves obtidos, designadamente por apanha ocasional para consumo próprio, e os operadores económicos
do sector, deverão estar atentos aos avisos relativos à interdição da apanha e captura de bivalves, emitidos pelo IPIMAR.

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